A partir de 2000, vários canais,
programadoras e operadoras sentiram o forte impacto da crise econômica na
América Latina, principalmente no Brasil. Em 1994, no início do Plano Real, com
a equiparação da moeda brasileira em relação ao Dólar, as operadoras haviam
apostado no crescimento do nosso mercado, investindo em avanços tecnológicos e
na transmissão de cada vez mais canais. Essas empresas sabiam que iriam
adquirir dívidas nos primeiros anos de serviço, no entanto, as perspectivas
para os anos seguintes eram as melhores possíveis. Mas, essas distribuidoras de
canais não contavam com um "pequeno" detalhe: os seus gastos estavam totalmente
vinculados ao Dólar. Desde o pagamento dos canais estrangeiros, como Discovery
Channel, FOX, TNT e HBO; até os equipamentos utilizados para a captação e
transmissão dos sinais, praticamente tudo era pago na moeda americana.
Enquanto o Dólar estava equiparado
com o Real, os negócios fluíam normalmente, mas, quando a diferença de valores
aumentou, as operadoras se viram diante de uma verdadeira sinuca. Elas recebiam
dos assinantes em Real e pagavam aos fornecedores em Dólar, tendo, em pouco
tempo, as suas despesas triplicadas. Para compensar as perdas cada vez maiores,
as operadoras se viram forçadas a aumentar as mensalidades, mas esbarraram em
um outro problema: a crise veio para todos e a diminuição do poder de compra
dos brasileiros fez com que muitos cortassem gastos com supérfluos, como a TV
por assinatura.
Diz o velho ditado que, "quanto
maior, maior o tombo". Essa máxima aplicou-se perfeitamente à situação da
NET (Globo Cabo), a maior operadora de cabo do país. Segundo a Folha de São
Paulo noticiou no dia 16 de agosto de 2002, as dívidas de empresa cresceram
275,6% em apenas três meses, passando de R$ 83 milhões no primeiro trimestre
para R$ 312,7 milhões no segundo trimestre de 2002. Nesse período, a receita da
operadora de TV e de serviços de banda larga para internet registrou uma queda
de 2,1%, passando de R$ 286,7 milhões para R$ 280,7 milhões. Para piorar a
situação, o número de pagantes da TV por assinatura também baixou de 1,398
milhão para 1,366 milhão entre março e junho, numa queda de 2,3%.
A solução encontrada pelas principais
operadoras de TV por assinatura foi a renegociação de contratos com seus
fornecedores de programação e serviços. Empresas como a NET, SKY, TVA e
DIRECTV, que possuíam maior poder de barganha (pela grande quantidade de
assinantes), foram as primeiras a adaptar os gastos com programação ao novo
cenário econômico. Para um canal de TV por assinatura, era muito melhor ter sua
distribuição garantida, mesmo que ganhando um valor menor do que antes, ao ter
o seu sinal suspenso da grade e experimentar a ameaça de quebra por falta de
assinantes.
Além das operadoras, os canais de TV
paga também sofreram com o período negro da economia, pois também contavam com
o crescimento da base de assinantes para a prosperidade dos seus negócios. Na
tentativa de suprir a desaceleração do mercado e sanar suas dívidas
operacionais, diversos canais estrangeiros abriram grandes espaços para
informes publicitários. Além da venda de comerciais e cotas de patrocínio para
as atrações, canais como a FOX, ESPN, MGM, National Geographic, Discovery,
People+Arts, USA Network e vários outros abriram espaços na programação para os
chamados "infomerciais", blocos contínuos de televendas de produtos,
exibidos de uma a cinco horas seguidas na grade, geralmente na parte da manhã.
Esta atitude não agradou nem um pouco os assinantes, mas mostrou-se necessária
para diversos canais no momento de instabilidade financeira.
Fonte: Tv Magazine